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A ESTÉTICA EM CONFRONTO: DO EFEITO ESTÉTICO ÀS POSSIBILIDADES DE CONHECIMENTO NA OBRA DE ARTE

 

CAIXETA, Ana Paula Aparecida (UnB)

 

Considerando os atuais desafios com relação aos efeitos de recepção da obra de arte no Brasil e destacando um certo fenômeno de negação do contexto e conhecimentos possíveis acerca do que os objetos nos provocam sensivelmente, este trabalho propõe pensar elementos de estética e do efeito estético provenientes da relação sujeito/objeto, a partir de apontamentos teóricos de Immanuel Kant (1724-1804), Wolfgang Iser (1926-2007) e Michel Maffesoli (1944). Especialmente, serão observados aspectos da recepção de uma obra da artista brasileira Adriana Varejão (1964), “Cena de Interior II” (1994), pertencente à sua série Terra incógnita e integrante da mostra polemizada Queer Museu, cuja moral externa à obra sobrepuja possibilidades de fruição. Desse modo, para dar conta de etapas importantes no processo de relação do público com o objeto artístico (efeito estético, fruição, intepretação e conhecimento/entendimento), será necessário pontuar discussões que permitam pensar as complexidades nascidas dos efeitos sensíveis que uma obra de arte provoca. Acredita-se, aqui, que esse movimento faz parte de um gesto de entendimento que também se propõe estético à medida que busca por compreensão de uma consciência sensível como parte do conhecimento no que tocam questões próprias da condição humana, como o sexo, por exemplo.

 

 

SOBRE O CONCEITO DE MONTAGEM EM WALTER BENJAMIN

 

CAPANEMA, Letícia Xavier de Lemos (UFMT); RIBEIRO, Daniel Melo (PUC-SP)

 

Este estudo explora o conceito de montagem em diferentes expressões artísticas a partir da obra de Walter Benjamin. O objetivo principal é investigar como o exercício da montagem se torna uma ferramenta de descoberta e de reflexão crítica que se volta sobre a própria linguagem das artes. Para isso, são investigadas as implicações da montagem não somente no cinema, mas também em outras manifestações, tais como o teatro, a fotografia e as artes gráficas.

Entendemos a montagem como um procedimento de junção entre fragmentos com a intenção de provocar um novo sentido interpretativo. Assim, a montagem não deve ser compreendida somente como uma mera organização de peças: trata-se de um método heurístico que, por meio do choque e do contraste de seus elementos, é capaz de estimular a descoberta de novas propriedades que permaneceriam ocultas se tomássemos tais elementos isoladamente.

Além de seu potencial heurístico, a montagem também pode ser entendida em seu aspecto político. Na medida em que promove a reflexão a partir da junção de peças aparentemente sem relação semântica, a montagem pode ser usada como um instrumento de questionamento sobre os limites do seu próprio suporte sígnico. Em outras palavras, o estranhamento causado pelo choque inusitado de seus elementos pode levar o leitor a questionar os próprios padrões e as convenções que tradicionalmente regem determinadas linguagens. Esse efeito foi intensamente explorado não somente pelas vanguardas artísticas, tais como o Dadaísmo e o Construtivismo, mas também pelo próprio teatro épico de Bertold Brecht.

Como subsídio teórico para essa discussão, vamos nos apoiar nas reflexões de Walter Benjamin. Benjamin se debruçou sobre o conceito de montagem em diferentes momentos de sua trajetória acadêmica. Suas reflexões sobre o tema se encontram não somente nos textos sobre a fotografia e o cinema, mas também nas suas publicações sobre o barroco alemão, as metrópoles modernas e as vanguardas artísticas do início do século XX. Tal percurso passa, necessariamente, por seu grande interesse pelas imagens, culminando na elaboração do conceito de imagens dialéticas, cuja definição contempla o uso de metáforas luminosas: são lampejos surgidos a partir do choque de dois elementos temporais, cujas diferenças contrastantes, em uma tensão dialética, formam novas constelações de significados.

Neste estudo, identificamos alguns trechos da obra de Walter Benjamin que nos ajudam a compreender essas propriedades da montagem em suas distintas aplicações. Por fim, resgatamos também as considerações de Georges Didi-Huberman sobre esse tema. Didi- Huberman identifica as imagens dialéticas de Benjamin em distintos contextos, tais como nas obras de Bertold Brecht, de Jean-Luc Godard, de Sergei Eisenstein e no Atlas Mnemosyne de Aby Warburg.

Assim, com base nesses autores, levantamos a hipótese de que o exercício da montagem resulta em duas propriedades complementares: uma propriedade heurística, que envolve a descoberta por associações inesperadas, e também uma propriedade política, que incita a reflexão crítica sobre o próprio suporte comunicacional. Por fim, defendemos que a compreensão dessas duas propriedades da montagem, à luz de Walter Benjamin, são relevantes no cenário político contemporâneo, na medida em que evidenciam como as artes podem promover a descoberta e o pensamento crítico sobre a própria linguagem.

 

 

 

 

LITERATURA POLICIAL E A ASCENSÃO DO MILITARISMO NO BRASIL: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS TEORIAS DE ECO E BAKHTIN

 

CASTRO NETO, José Carlos (UFMT)

 

Este trabalho pretende analisar a literatura policial, especialmente a produzida no Brasil, através de um viés semiótico. Para isso, serão utilizadas duas correntes teóricas: a semiótica de Eco e do círculo de Bakhtin. A proposta semiótica de Umberto Eco leva em conta aspectos da formação sígnica e do processo de comunicação (Tratado Geral de Semiótica, 1975). Nessa abordagem, a arte é vista como processo sígnico e este é estudado a partir da tríade apresentada por Peirce (representámen, objeto e significante). Isso indica que todo processo de significação é mediado. Desse modo, pode-se entender que o viés utilizado por Peirce e seguido por Eco é cognitivo. Para lidar com esse processo de mediação, Eco utiliza o conceito de Código (ECO, 1975), que indica estruturas pelas quais se produzem e se interpretam processos de significação. Dentro desse arcabouço teórico-metodológico a busca do detetive/investigador para desvendar o crime e a solução final refletiria a busca humana de sentido e o desejo de encontrar a solução para essa busca (O nome da rosa, 1980). Contudo, pode-se pensar que essa interpretação não esgota as possibilidades da literatura policial. Por isso, este trabalho também se vale do conceito de dialogismo de Bakhtin para aprofundar o estudo desse gênero, especialmente como é produzido no Brasil. Mikhail Bakhtin, ou o círculo de Bakhtin, conforme alguns debatem, propõe uma abordagem diferente para a interpretação de obras de arte. Ele tem uma base teórica que justifica a prática, o dialogismo (Marxismo e Filosofia da Linguagem, 1990). No dialogismo, toda enunciação é vista como um processo semelhante a um diálogo (tem uma ideia completa – acabamento – e faz referência a discursos anteriores, pedindo resposta a discursos posteriores – alternância de sujeitos). Dentro dessa base, Bakhtin propõe o estudo de gêneros do discurso, que se diferem dos gêneros literários por não serem, necessariamente, literários. Afinal, ele está preocupado com os processos de comunicação e não apenas com literatura (Estética da Criação Verbal, 2003). Os gêneros do discurso têm três componentes básicos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Esses componentes permitem identificar o gênero do discurso, mas é dentro do dialogismo que cada gênero encontra seu sentido. Uma análise dos próprios textos de literatura policial indica a que tipo de discurso estão respondendo. Todos eles criticam a atuação policial e a situação de segurança pública como consequência da urbanização (a exemplo de Sir Arthur Conan Doyle e de Agatha Christie). No Brasil, a crítica vai além disso. Num recorte da literatura policial brasileira pode-se perceber que não se contém a solução do crime, indicando uma crítica não apenas à atuação policial, como nos europeus, mas também à própria situação da justiça estatal no país. Portanto, através das teorias de Eco e, principalmente, de Bakhtin, é possível perceber na literatura policial uma crítica ao discurso muito comum atualmente no Brasil de que um desenvolvimento do militarismo no país seria solução para a segurança e justiça.    

 

 

DO PODER AO BIOPODER: A TEORIA CRÍTICA DE MICHEL FOUCAULT

 

COSTA, Thiago (USP/IFMT); MARINHO, Ariadne (SEDUC – MT)

 

Esta pesquisa pretende compreender a narrativa do filósofo Michel Foucault, que em sua escrita pinta um verdadeiro quadro da história como obras de arte, com pinceladas curtas, espaçadas, de uma delicadeza brusca. O filósofo delineia argutamente o burilar dos acontecimentos ou fatos filosóficos, sociais e históricos, quase impossíveis de classificação. Nas suas obras, Foucault expõe com sutileza a historicidade política de alguns conceitos e expressões universais como o de Estado, governamentalidade, liberalismo, a nova arte de governar, Estado de Polícia, Razão de Estado, relação de Poder, a vida, a Biopolítica, entre outras. Sob a tênue do questionamento e da crítica à forma como todo o processo político de governabilidade da vida nasce e se desenvolve, apontando como se deu tais mudanças e o impacto que alcançaram, além formular projeções de como um novo significado altera todo um estilo de vida em sociedade.

 

DO ESCLARECIMENTO À BARBÁRIE E A ARTE COMO EMANCIPAÇÃO DOS INDIVÍDUOS

 

FERREIRA, Ada Cristina (UFMT)

 

Este estudo tem como objetivo apresentar, sob a visão do filósofo frankfurtiano Theodor Adorno, o papel da arte na emancipação dos indivíduos. Para isso, partiremos do conceito de esclarecimento que, segundo o filósofo levou a civilização já esclarecida à barbárie. O esclarecimento que deveria livrar os homens do medo mítico da natureza levando-os a encontrar a própria autonomia está sendo afundado numa nova espécie de barbárie (2006). A autodestruição do esclarecimento apontou para o auge do irracionalismo que culminou na prática do assassinato administrado de milhões de seres humanos. O holocausto na Alemanha nazista refletiu a essência própria da razão dominante e do mundo que correspondia a sua imagem (2006). A razão se transformou em razão instrumental a serviço de uma sociedade que acaba promovendo atrocidades contra seres humanos. E tais atrocidades, segundo o autor, são sempre uma possibilidade iminente, uma vez que a sociedade recalca a experiência mítica fazendo com que as causas da barbárie não sejam eliminadas por completo. A barbárie na concepção do filósofo é contrária ao processo de formação e civilização e os sintomas de tais atrocidades dependerão do estado de consciência ou não consciência dos indivíduos. Ela se aloca no primitivismo da violência injustificada, nas atrocidades e atitudes repressivas que cometem os sujeitos. Seu início está no processo de construção da civilização. Na Odisseia, temos a viagem de Ulisses de volta à pátria que serve para compreendermos, de forma alegórica, o início da civilização burguesa. No mito, há o momento em que Ulisses se encontra com as sereias, monstros míticos que seduzem suas vítimas com suas canções mortais, nenhum mortal logrou êxito ao ouvir tais cânticos. Ulisses, sujeito que está no processo de emancipação, passa por este momento alçando-se vitorioso, ouve os encantos das sereias mas sai ileso pelo domínio da técnica. Ele reconhece que suas forças são pequenas diante da natureza e dessa forma deixa-se, tecnicamente, amarrar-se ao mastro para assim se entregar ao prazer do cântico mágico (2006). Ao sair vitorioso Ulisses alcança sua individuação. No conto, tal passagem representa segundo o filósofo, a dominação da sociedade pela razão instrumental. A técnica que deveria servir à autoconservação dos indivíduos foi sendo supervalorizada, sem contudo observar suas consequências irracionais. A subjetividade humana se dilui neste processo e os indivíduos se automatizam, se atrofiam enquanto seres racionais. Dentro dessa ótica da racionalidade instrumental, Adorno propõe a reconstrução da individualidade e autonomia dos sujeitos. Uma das propostas do filósofo é emancipar os indivíduos por meio da educação, arte e filosofia. A arte emanciparia por sua autonomia, liberdade, originalidade e o sujeito que dialoga com ela pode vislumbrar a autorreflexão crítica. A arte esclarece, enquanto “a cegueira alcança tudo porque nada compreende” (2006). Com a arte os indivíduos são capazes de observar as contradições que marcam a sociedade nos seus períodos históricos e dessa forma não mais repetir barbáries como o holocausto nazista.

 

ESTÉTICA INDÍGENA BOE: O RITO FUNERAL E A FORMAÇÃO CORPÓREA

 

LECCI, Alice Lino (UFMT)

 

O rito funeral Boe se traduz em uma experiência cognitiva estética, na medida em que é considerado o lócus privilegiado da formação corpórea dessa etnia indígena. A sua realização compreende os cantos, entoados em língua própria (Boe Wadáru), cujas letras aludem à tradição milenar do Boe Akaru, isto é, os saberes originários dos seus chefes ancestrais, que são passados de geração em geração. Esses cantos ainda são acompanhados de instrumentos musicais, como o tambor, maracás, instrumentos de sopro, além das danças, que se equiparam a um evento performático.

Dito isso, a presente comunicação tem como propósito compreender a relevância dessas práticas artísticas para a educação corpórea dos/as indígenas Boe, ou seja, trata-se de compreender como essas práticas possibilitam a formação moral e política dessa sociedade. Para tanto, utilizam-se os argumentos de Félix Adugoenau, liderança indígena Boe, na caracterização de seu grupo étnico. E propõe-se também um deslocamento de certos argumentos do conceito ontológico de trabalho de Herbert Marcuse para se pensar a prática do rito funeral, haja vista que esse pode ser compreendido como uma busca contínua da realização da existência Boe, que gera algo permanente no seio da sociedade, a saber, a sua identidade.

 

POR QUE A PROMESSA DE FELICIDADE DEVE CONTINUAR SEM SER CUMPRIDA?

 

MORAES, Lucyane de (UFMG)

 

Valendo-se do critério filosófico adotado pelos pensadores da chamada Escola de Frankfurt, este trabalho se utiliza do método teórico-crítico e na tentativa de alargar suas contribuições teoréticas, partindo, entre outros, do conceito de indústria cultural, analisando como este ainda pode redimensionar os impactos causados aos ambientes socioculturais pela atuação dos mass media na atualidade. Tal investigação se faz consequente tendo em vista que aquilo que se concebe hoje como indústria cultural em muito se difere daquela do contexto dos anos quarenta, quando do advento da conceituação por Adorno e Horkheimer, resumindo diferentes formas de comercialização da arte através de atualizados recursos-meio de produção e difusão constituídos hoje como esfera consequente e indissociável da chamada pauta positiva da cultura. Em outras palavras, aquilo que originariamente conotava sentido crítico eminente, inclusive caracterizado pelo estranhamento (Verfremdung) terminológico resultante da junção de duas sentenças então conflitantes, foi elevado à condição de esfera progressista que - por meio da ascensão de formas culturais pela sistematização de novas dinâmicas da esfera industrial - reconciliado por um ideal positivista de neutralidade, constitui-se a partir de possibilidades de ampliação mercadológica e desenvolve-se com o fundamento de uma suposta ideia de democratização da cultura. A discussão dessa análise surge a partir dos pressupostos (considerados) mais importantes das correntes de reflexão crítica da cultura, da arte na atualidade e do sentido originário da indústria do entretenimento. Para tanto, dialeticamente, chama-se a atenção para a impossibilidade de se eliminar do conceito estético do novo os procedimentos industriais da Modernidade mercadológica, do novo e sempre-igual (Immergleichen), daquilo que é imposto mais uma vez e que domina cada vez mais a produção material da sociedade, compreendendo tais procedimentos em si como um princípio contrário ao novo. Sobre a questão e, recorrendo ao conceito de fetichismo da mercadoria, endossa-se a tese de que no mundo moderno do capital, o mesmo - continuado em processo de repetição - embora se revele como novidade, apresenta-se como experiência esvaziada de conteúdo, determinando uma realidade fictícia. Criada com bases na exploração e na satisfação do desejo do consumidor, a dinâmica da produção da mercadoria é a de fabricar diferentes produtos que deem a sensação de que o sujeito-consumidor esteja ilusoriamente adquirindo alguma novidade. Desse modo, quer-se fazer refletir sobre possibilidades alternativas resultantes de modelos de produção artística, advindas das atuais sociedades urbanas, entendendo que o demasiado valor dado ao conceito em detrimento da matéria não resolve as questões atinentes ao potencial social da arte.

 

A ARTE COMO DIMENSÃO DO FAZER PARA ALÉM DO TRABALHO: UMA CONSIDERAÇÃO SOBRE O INÍCIO DA OBRA DE GIORGIO AGAMBEN

 

NASCIMENTO, Joelton (Pesquisador Independente)

 

A primeira obra publicada por Giorgio Agamben O Homem sem Conteúdo, ([1970], 2012) trata da relação entre o lugar da arte na cultura e a humanidade diante de seu fazer histórico. Nesta comunicação, proporemos uma leitura desta obra sublinhando o papel nela desempenhado pelos problemas do fazer humano – portanto da vita activa em sentido arendtiano – e sua relação com o trabalho no sentido moderno de atividade economicamente explorada. Em seu diálogo filosófico com a arte moderna, Agamben sustenta que a “época estética” marca uma distinta compreensão do fazer humano e sua relação com a história, relação esta perpassada pelas figuras do “gênio” e do “gosto” e da fruição desinteressada. Ao estudar a crítica “antiestética” de Nietzsche, Agamben compreende de maneira bastante clara que tal antiestética leva a pensar em uma crítica do fazer humano entronizado como atividade produtora ligada aos ciclos biológicos da vida – a saber, como práxis – na modernidade. A indiferença em relação ao conteúdo – compreendido como finalidade – marca então toda a compreensão contemporânea do fazer dos “viventes sobre a terra”, soldando todo o pensamento do fazer humano a um estatuto da vida compreendida como ciclo biológico. Uma crítica da época estética, portanto, leva a uma crítica profunda do trabalho como categoria de socialização e seus impasses e crises. Após essa leitura, levantamos duas hipóteses: a primeira é que esta obra marca um pertencimento “avant la lettre” de Agamben a uma vertente de teoria social crítica do trabalho, como a do grupoKrisis ([1999], 2001) e a crítica do valor-dissociação entre outras, e, em segundo lugar, que este ponto de partida crítico-do-trabalho marca indelevelmente toda a obra posterior de Agamben, especialmente sua marcante pesquisa  denominada Homo Sacer (1995-2016).

 

REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS A PARTIR DO PENSAMENTO DE WALTER BENJAMIN

 

NEVES, Mariana de Oliveira (UFMT)

 

O presente trabalho apresenta aspectos fundamentais do ensaio “O Narrador” de Walter Benjamin, onde o autor apresenta considerações sobre o fim da narração tradicional e os seus desdobramentos na modernidade. Benjamin expõe reflexões sobre a obra do escritor russo Nicolai Leskov, retratando o mesmo como a “figura do narrador” que segundo ele torna-se cada vez mais distante de nós. Nas comunidades tradicionais onde os trabalhos eram exercidos de forma coletiva, próximos a um meio de produção artesanal, a presença da narrativa foi realmente incorporada na sociedade vigente. A narrativa possui sua fundamentação no que é transmitido de boca em boca e ganhou notoriedade pelos valores e costumes perpetuados por outras gerações através da experiência advinda da oralidade. Assim a narrativa ganha seu destaque quando observamos a análise de Benjamin sobre o desaparecimento da figura do narrador. O pensamento de Benjamin pauta- se numa filosofia crítica e apresenta elementos importantes para pensar o conceito de narrativa, experiência e tradição. Elementos fundamentais e bastantes discutidos em nossa atualidade. Quais elementos estão presentes nas narrativas russas de Nicolai Leskov que faz com que o filósofo alemão lance considerações sobre a sua obra? É possível falar de uma experiência coletiva na obra de Leskov? Algumas perguntas norteadoras são de suma importância para o desenvolvimento deste trabalho, afinal conhecer as narrativas do escritor russo é fundamental para entender o conceito de narrativa em Benjamin. Assim, o olhar que Benjamin apresenta sobre este período onde a tradição oral é marcante, torna-se o pano de fundo deste trabalho. Outra particularidade importante para desenvolver este estudo é entender a ruptura da tradição com a chegada da modernidade também apresentada pelo próprio autor no ensaio mencionado no início deste resumo. Com a modernidade surgem novas maneiras do indivíduo se relacionar com o ambiente à sua volta, o meio é agora marcado pela vivência urbana. Segundo Benjamin, “uma forma completamente nova de miséria recaiu sobre os homens com esse monstruoso desenvolvimento da técnica” (BENJAMIN, 2012, p.124). Todavia, vem o questionamento: De que vale todas essas novas invenções se o ser humano torna- se cada vez mais empobrecido diante de experiências humanas? Experiências essas que tornam-se escassas diante da barbárie presente no mundo. Desta maneira a proposta desta comunicação é pensar a partir das reflexões suscitadas pelo filósofo, o papel da arte como algo essencial na formação do ser (social) humano, como possibilidade de voltar-se para si, tomando consciência de sua própria condição, viabilizando assim a ressignificação do próprio eu.

 

O DITO NUM SAMBA DE ISMAEL SILVA: O ARTISTA NEGRO, SUA MARGINALIZAÇÃO E A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA NO INICIO DO SÉCULO XX EM QUESTÃO

 

ROCHA, Luis Guilherme Santos (UFMT)

 

O samba, uma manifestação cultural de origem negra, era muito mais que uma arte: era o espaço onde artistas de grande talento expressavam fatos de suas vidas (anseios, medos, amores etc.). Foi extremamente marginalizado pelo racismo que a discriminado por ter sido criado e expressado inicialmente nos espaços de sociabilidade das populações negras que, após a abolição da escravidão foram lançada a pobreza e a periferia dos grandes centros urbanos e ainda se mantinham sob o estereótipo de “escravos” conforme descreve PEREIRA (1970, p.14-15). Pretende-se com esta exposição apresentar os resultados do projeto pesquisa “A música negra como movimento de resistência no período de 1916 à 1937”, desenvolvido no ano de 2015 durante minha participação como voluntario no projeto de extensão “Ação Afirmativa no Ensino Superior: Articulações de Vivências e Saberes na UFMT”. Em específico a análise acerca da situação da população negra no inicio do século XX paralelamente ao desenvolvimento da indústria fonográfica impulsionada pelo desenvolvimento dos meios de gravação de música e do rádio no Brasil. Durante a pesquisa foram levantadas ao todo 5 canções compostas por compositores negros entre o período de 1916, ano que, segundo CABRAL (1996, p. 22) aconteceu a primeira gravação de samba no Brasil à 1937 delimitando a pesquisa até o inicio do Estado Novo. Esta apresentação busca inicialmente contextualizar o período e refletir acerca da situação da população negra e do artista negro no processo de desenvolvimento da indústria fonográfica, da ideia do samba enquanto uma “identidade nacional” e, a partir da análise da letra da canção “Me faz carinhos” de Ismael Silva, gravada em 1928 por Francisco Alvez, procuramos identificar as relações raciais ali descritas e analisar contexto social, histórico e cultural ao qual a população negra e o artista negro, em especial Ismael silva, estavam inseridos. Nisto se deu inicialmente a motivação desta pesquisa: analisar sobre o que alguns compositores negros falavam nas letras de suas canções naquele período com o intuito de dar voz a artistas que, mesmo em uma área que, dentro de um imaginário social, o pertence, como o Samba passaram por um processo de marginalização e discriminação por sua origem racial.

 

O OCASO DA DESOLAÇÃO DA CIDADE: A ESPERANÇA DA EXPERIÊNCIA URBANA NÃO DANIFICADA EM WALTER BENJAMIN

 

SOUZA, Talins Pires de (PUCRS)

 

A este libelo não cumpre um cenário descritivo, extenso ou intensivo dos problemas das cidades, senão tão somente será levantado e comentado alguns aspectos de determinada situação de abandono imputado ao meio urbano, como início de um processo maior de pesquisa. Assim sendo, cabe argumentar que a crise que ora se instalou no país é anterior para as cidades, e que essa instalação só tornou mais claro o problema da desolação. Merecendo, por isso, alentar a reflexão sobre quais são os reais problemas responsáveis pelo descaso observado. Pretende-se, entre outras coisas, mostrar como esse processo de crise instalado auxilia a degradar o meio urbano. Suspeita-se que seja porque acelera ainda mais o complexo de abandono à cidade. Por outro lado, “a esperança da experiência urbana não danificada” é um desafio a ser alcançado pelo auxílio de rico conteúdo e pensamento de Walter Benjamin sobre a experiência urbana. Acredita-se que o problema da experiência danificada, afinal, em certa medida, corrobore com a desolação urbana.

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