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Resumos das comunicações:

 

BENITES, Paulo (UNIR)

INFORMAÇÃO, OBSESSÃO E RAZÃO INSTRUMENTALIZADA: UMA LEITURA DO ROMANCE REPRODUÇÃO, DE BERNARDO CARVALHO

 

Palavras-chave: Informação. Narrativa. Obsessão. Razão instrumentalizada. 

 

Resumo: A presente comunicação tem como objetivo discutir os efeitos de sentidos do excesso de informação e da obsessão no romance Reprodução (2013), de Bernardo Carvalho. Trata-se de uma narrativa construída no limite entre o diálogo e o monólogo na qual a personagem principal – o estudante de chinês – projeta sua percepção do mundo, formada, basicamente, de suas leituras de colunistas e blogs de opinião. O eixo de discussão central deste estudo busca saber como a obsessão e a busca constante por informações, caracterizadas pelo saber enciclopédico e pela superficialidade das redes digitais, culminam no processo de instrumentalização da razão. Para tanto, a pesquisa parte dos pressupostos teóricos da teoria da narrativa, principalmente autores que vêm debatendo a formação da posição do narrador contemporâneo, tais como Ginzburg (2012) e Schollammer (2011) e como este narrador desafia os limites da representação do real e, por consequência, da verdade, bem como as ideias advindas da Teoria Crítica e de seus comentadores para pensar e debater o princípio da razão instrumentalizada, sobretudo a discussão de Adorno e Horkheimer (1985), Zizek (1992) e Safatle (2008). Como resultados, o presente estudo pretende contribuir com as discussões que aproximam os campos da literatura e da filosofia para pensar o processo de construção do conhecimento a partir da relações digitais no Século XXI.



 

BEZERRA,Mateus Matos (UFMT)

SOBRE O CONCEITO DE “FORMA DA ARTE” NA OBRA TEORIA ESTÉTICA E SUA RELAÇÃO COM O CINEMA ATUAL

 

Palavras-chave: Forma da arte; Conteúdo; Cinema; Theodor Adorno; Teoria Estética.

 

Resumo: Nesta presente comunicação tratarei do conceito de “Forma estética”, procurando explicar porque é entendida, em Adorno, como conteúdo sedimentado. Assim, demonstrarei em que medida o conceito pode ser colocado nas obras de arte atuais, visto que o pensador viveu em um momento diferente do nosso, e segundo o próprio a arte é uma constante mudança em seu próprio conceito. Para que tal análise seja possível, observarei duas obras: Parasita, do Boong Joon-ho, e Coringa, de Todd Phillips; verificando até que ponto o conteúdo e a forma trazem a exploração de uma obra autêntica. Pensando nisso, é possível analisar como os conceitos de expressão, aparência, logicidade e construção se moldam em volta de um projeto que vai sempre de encontro com uma “conformidade a fim sem fins”, para usar a expressão kantiana. Com isso podemos ver como a forma faz o papel de mediação por meio do material,  principalmente, pelo fato de se observar que o cinema atual não se adapta ao que é pré-estabelecido pela indústria, mesmo que o mundo neoliberal tenha colocado em prática a discussão de finalidade da arte como um trabalho e um produto mercantilizável. Algumas atuações mais recentes mostram como, por exemplo, o Coringa, que é um personagem claramente hiper explorado pelo seu teor caótico, pode ser totalmente repaginado e reimaginado nas obras de arte, por meio da forma; que nesse caso tenta adaptar o caos do Coringa à um caos mundano que não está presente apenas nele, mas que só pode ser desenvolvido num personagem fora da realidade normatizada. Isto é, há um rompimento legítimo entre a obra de arte com a sua finalidade, alcançando inclusive coisas além da expressão artística e da própria intencionalidade que a obra ou os interpretadores tentam classificar a arte, o que ocasiona no aprisionamento interpretativo, mas que não conseguem fazer enquanto forma e arte em si. Com isso, busca-se demonstrar como a teoria de Adorno e suas noções de arte autêntica e forma estética poderiam ainda serem cabíveis para a arte na atual sociedade neoliberal. Creio que a grande viabilidade que nos resta é entender a arte como uma práxis resistente ao senso comum ou da própria indústria cultural, mas de uma forma que se apresenta como uma não-elaboração da totalidade, pois é aberta à constante reatualização que ocorre a cada reinterpretação. 



 

CASTRO, Ana Luiza Moro de (UFMT)

ESTADO DE EXCEÇÃO E VIOLÊNCIA DIVINA EM WALTER BENJAMIN

 

Palavras-chave: Walter Benjamin, Giorgio Agamben, estado de exceção, 

violência divina, crítica do poder/violência.

 

Resumo: Escrito e publicado em 1921, o texto “Crítica da Violência – Crítica do Poder” de Walter Benjamin discorre sobre a ligação entre a violência que institui a lei e a violência que a mantém. Benjamin chamou de violência divina a figura que poderia quebrar o ciclo dialético entre essas duas violências; em vez de conservar ou instituir o direito, ela o “de-põe” (entsetzt). Essa quebra criaria uma política livre do direito, sendo uma zona em que a violência que funda o direito e a violência que o conserva se confundem, algo que está fora e além do ordenamento

Jurídico. Para nos ajudar a compreender o que Benjamin entendia por violência divina e como

ela poderia criar o que ela classificou como estado de exceção real, quebrando a dialética entre

a violência que põe o direito e a violência que conserva o direito, usaremos as obras de Giorgio

Agamben. Agamben interpreta a condição política moderna como uma de abandono legal. Para ele, o poder soberano sujeita os indivíduos à morte para garantir a própria soberania, e a manutenção do poder se daria justamente por meio da manutenção e administração da vida. É na exceção que se funda o poder soberano que irá administrar as vidas. A violência soberana, em sua visão, mantém o direito ao suspendê-lo e o institui ao criar exceções. Há, para ele, um paradoxo da soberania, uma vez que o poder soberano está ao mesmo tempo fora e dentro da ordem jurídica. A soberania se torna aparente com a decisão que define qual é a norma e qual é a exceção e cria os institutos necessários para que a norma atue. A dialética entre as violências ainda não é rompida, pois mesmo que esteja à margem do ordenamento jurídico, a decisão soberana é o meio que possibilita a passagem de uma violência para outra. O nexo entra violência e direito, portanto, se mantém. O rompimento desse nexo entre a violência que põe o direito e a violência que o conserva seria feito justamente pela violência divina, a qual Benjamin não atribui especificações determinadas, mas sabemos que é o poder/violência que 'de-põe' (entsetzt) o direito, ou seja, nem o conserva, nem o institui.


 

ESTEVEZ, Lucas (USP)

O ESPLENDOR ALUCINATÓRIO DAS IMAGENS: REFLEXÕES SOBRE O OFUSCAMENTO DE UMA REALIDADE PÁLIDA

 

Palavras-Chave: imagem, Fredric Jameson, Jean Baudrillard, simulacro, hiper-realismo. 

 

Resumo: Já havia entre os que pensaram o papel da arte e o status da imagem no final da modernidade um certo consenso difuso de que o objeto de tudo relacionado ao estético tinha se deslocado a um novo lugar e função, e em última instância, desaparecido. Adorno, Marcuse e Debord, cada um à sua forma, tentaram delinear a perda de evidência da arte num emaranhado social que convergia cada vez mais a um novo tipo de barbárie: uma realidade dominada por imagens sem profundidade, mas com poder de fascínio maior que o próprio real. Em contrapartida, pensadores críticos da “pós-modernidade”, como Fredric Jameson e Jean Baudrillard, realizaram diagnósticos precisos do destino das imagens, tal como se empenharam na compreensão da gênese do objeto estético nesse novo regime do tempo. Jameson diagnosticou a retomada de formas artísticas do passado como uma historicidade sem história, Baudrillard entreviu imagens que se tornaram simulacros sem significação no real. Essa comunicação pretende perpassar tais questões, fornecendo a título de contribuição para o debate um breve estudo de caso do “hiper-realismo”, considerado aqui como movimento artístico onde tais tendências de dessublimação da arte e desrealização da imagem irrompem de forma extrusiva.

 

JINKINGS, Gabriel Nunes de Souza (UFMT) 

REVELAÇÃO [OFFENBARUNG] E REDENÇÃO [ERLÖSUNG] EM WALTER BENJAMIN

 

Palavras Chave: Redenção, Revelação, História, Walter Benjamin.

 

Resumo: A presente comunicação visa analisar os conceitos de Revelação e Redenção na filosofia de Walter Benjamin, principalmente nos textos, Teses sobre o conceito de história e Fragmento Teológico - Político. Conceitos inspirados pela visão teológica da história de Franz Rosenzweig, essas categorias demonstram o sentimento de esperança e justiça contra o continuum histórico de repressão e dominação. Na necessidade de escrever outra história, Benjamin recorre à tradição judaica, contrapondo-se a uma história de causalidade cronológica eficaz. Analisar estes dois momentos se torna uma tarefa essencial, principalmente, se levarmos em conta as ondas de conformismo e fanatismo, presentes nas atuais sociedades liberais. Nesse sentido, a redenção compreende uma noção de experiência distinta do tempo, sendo possível somente na relação verdadeira entre homem e mundo. Nessa relação, homem e mundo se modificam, dando continuidade à criação. E é na tarefa da criação (relação entre deus e mundo) que se dá a revelação, condição necessária para se chegar à redenção. A revelação se segue através da linguagem, a qual torna as coisas cognoscíveis através do nome. Já a redenção é o momento histórico onde se expõe toda essa experiência, fazendo uma ruptura abrupta na história. É nela que ocorre a possibilidade de se fazer justiça aos vencidos, tempo de reparação e lembrança das ações humanas, assim como a possibilidade de felicidade em conformidade à releitura da história. 



 

LIRA, Ricardo (Unicamp/FAPESP)

O PAPEL DOS DEBATES DE DARMSTADT NOS ESCRITOS MUSICAIS DE ADORNO E O SURGIMENTO DE UM NOVO MODELO CRÍTICO DA MÚSICA NOS ANOS 1960

Palavras-chave: Theodor W. Adorno; Teoria Crítica; filosofia da música; Escola de Darmstadt

 

Resumo: A presente comunicação tem por objetivo reconstruir, em linhas gerais, a participação de Adorno nos debates sobre música nova nos anos 1950 e 1960, especialmente no que diz respeito ao envolvimento do filósofo com a nova geração de compositores reunida nos cursos de Darmstadt. Essa reconstrução é guiada pela hipótese de que tais debates foram determinantes para o delineamento dos problemas enfrentados por Adorno em seus escritos musicais tardios, sintetizados no modelo crítico da música informal dos anos 1960. Para tanto, procurarei organizar a reconstrução em três momentos distintos. Primeiramente, retomarei as principais críticas de Adorno resultantes de sua recepção da música da jovem geração de compositores dos anos 1950 – sobretudo do serialismo integral de Boulez e Stockhausen – apresentadas pelo teórico crítico na conferência O envelhecimento da música nova, de 1954. Trata-se de compreender de que modo a conferência de Adorno aponta para um diagnóstico de esgotamento do potencial crítico da música nova. O núcleo de tal diagnóstico encontra-se naquilo que Adorno denominou o fetichismo da série, resultado da apropriação de princípios técnicos do dodecafonismo da geração de Schoenberg pelos jovens compositores. Em um segundo momento, procurarei apresentar a recepção negativa que a conferência de Adorno obteve no meio musical de Darmstadt. Destaca-se aqui o intenso debate travado entre o teórico crítico e o jovem musicólogo Heinz-Klaus Metzger, documentado tanto na correspondência entre os autores como em diversos artigos e conferências entre os anos de 1955-1958. Se, por um lado, Metzger concorda com Adorno que o fetichismo da série aparece como elemento problemático nos primeiros experimentos musicais dos anos 1950, por outro lado, Adorno parece reconhecer, também por intermédio de Metzger, que tal diagnóstico é incapaz de apreender a produção musical mais significativa daquela década. Por fim, procurarei demonstrar de que forma os problemas levantados a partir desses debates conduzem ao modelo crítico adorniano da música informal nos anos 1960. Seja pela atenção voltada ao papel da indeterminação na forma musical, pela reflexão sobre o problema do desenvolvimento em música, bem como pelo surgimento de novos modos de conceber o material musical a partir dos experimentos da música eletrônica, trata-se de defender aqui a relação intrínseca, própria às exigências de uma teoria crítica, entre as mudanças concretas ocorridas na música do pós-guerra e a necessidade de formulação de um modelo crítico capaz de fazer jus a tais mudanças.


 

NASCIMENTO, Joelton (Pesquisador Independente)

O INENARRÁVEL DO FIM DO MUNDO

 

Palavras-chave: Colapso Ambiental, Literatura, Narração, Giorgio Agamben.  


 

Resumo: Partindo de um apontamento seminal de David Wallace-Wells sobre as condições de possibilidade da narração em meio ao colapso climático que experimentamos, esta comunicação fará uma breve reflexão sobre as artes da palavra na contemporaneidade. Em primeiro lugar, notaremos a questão da narração ficcional no colapso climático tal como a expõe Amitav Gosh. Em suma, ele se pergunta: porque tem sido tão difícil a emergência de grande obras ficcionais sobre o colapso climático? Em seguida, buscaremos participar das reflexões abertas por Gosh nos remetendo à literatura de testemunho, da Shoá em especial, para relacionar as dificuldades contemporâneas com o problema da literatura de testemunho da catástrofe nazista. Tiramos algumas consequências desta relação entre a narração ficcional contemporânea e suas dificuldades e o problema estético e ético do sujeito da vergonha tal como o apresenta o filósofo italiano Giorgio Agamben.

 

MAGALHÃES, Fernando Bee (UNICAMP)

 

QUAIS AS RELAÇÕES ENTRE A FILOSOFIA DA HISTÓRIA E A CRÍTICA DA LITERATURA DO SÉCULO XIX ELABORADAS POR WALTER BENJAMIN?

 

O interesse no conceito de fantasmagoria permaneceu por bastante tempo restrito à investigação de Margareth Cohen. No entanto, nas últimas duas décadas ele ganhou espaço em meio a literatura secundária sobre a obra de Walter Benjamin, de modo que os pesquisadores estão utilizando esse conceito para tentar explicar melhor a crítica feita por Benjamin à sociedade moderna capitalista.

 

Primeiramente, a literatura mais recente se preocupa em diferenciar a fantasmagoria do conceito de fetichismo da mercadoria para sanar uma confusão comum desde a publicação do trabalho das Passagens. Em segundo lugar, autores como Jaeho Kang, Marc Berdet e Christine Blätter ressaltam que o conceito de fantasmagoria corresponde de fato aos estímulos, ilusões, desejos e encantos que as mercadorias produzem nas pessoas de maneira imediata e sensível por meio da tecnologia da sociedade moderna capitalista. Kang escreve que a “fantasmagoria na obra de Benjamin ilumina aqueles aspectos ambíguos da experiência coletiva, expressos como fenômeno cultural e condicionados por uma forma particular de avanço tecnológico”. E Blätter afirma que “enquanto criada pelas pessoas como um fenômeno tecnológico e estético, a fantasmagoria está situada no reino do profano, permitindo-nos delinear uma noção filosófica de relevância política (Schöttker)”.

 

Para essa literatura mais recente, exatamente por corresponder a essas ambiguidades da experiência moderna capitalista, a reflexão promovida pela fantasmagoria permite pensar nos potenciais emancipatórios da tecnologia: pensar sobre uma nova forma de técnica que não se limite à dominação da natureza. Haveria, portanto, uma importância política na formulação desse conceito. E seria essa importância que os escritos de Benjamin sobre Fourier, Scheerbart, Baudelaire e Blanqui procuram apresentar.

 

Apesar de destacar um ponto importante para a teoria crítica de Benjamin: o potencial emancipatório da tecnologia, a explicação que atualmente é feita do conceito de fantasmagoria exclui em grande parte a sua relação com a filosofia da história e com a crítica formulada por Benjamin à literatura da sociedade do século XIX. Isso faz com que aspectos desiderativos e sensuais da mercadoria e da tecnologia ganhem maior atenção na apresentação da teoria crítica de Benjamin do que o seu diagnóstico social elaborado por meio da crítica literária.

 

Na tentativa de explorar melhor o diagnóstico social que Benjamin elabora acerca da sociedade moderna capitalista, eu tentarei mostrar como ele articula, por meio da crítica literária, o conceito de fantasmagoria à filosofia da história. Em outras palavras, em um primeiro momento, tentarei mostrar como a investigação que ele faz sobre a literatura do século XIX se relaciona com os problemas de exploração e exclusão sociais relativos à economia e à sociedade de consumo. E, em um segundo momento, apresentarei como essa crítica literária auxilia na crítica à tese de que o progresso da capacidade produtiva do mercado corresponde ao progresso da humanidade como um todo.

 

PATRIOTA, Raquel (UNICAMP/FAPESP)

SOBRE A RELAÇÃO ENTRE ARTE E OS ‘MEDIA’ NA OBRA DE ADORNO

 

Palavras-chave: estética; teoria crítica; media

 

Resumo: Quando se trata de uma teoria dos “media” em Adorno, é comum que se recorra às críticas à indústria cultural, tecidas na Dialética do Esclarecimento. Essas críticas são muito mobilizadas, em meio à literatura secundária, para acusar a falta de alcance da filosofia de Adorno no que diz respeito à arte de massas e aos potenciais disruptivos dos media. No entanto, tal imagem da obra de Adorno não só é insuficiente como também deixa de lado um importante potencial, indicado em seus escritos, de travar conexões entre a arte e os meios de comunicação de massa. Primeiramente, ainda na década de 1930 Adorno se envolvera com estudos empíricos sobre os mecanismos de reprodução no rádio, seu alcance e limites em relação à música modernista – textos em inglês que só foram compilados mais recentemente, na obra Current of Music (2006). Além disso, nos anos 1940 Adorno também se dedicou, junto a Hanns Eisler, a elaborar uma teoria sobre as relações entre cinema e música, que viria a dar corpo ao Komposition für den Film. Tais análises sobre cinema e rádio não são deixadas de lado, mas retornam em sua obra mais tardia com uma nova configuração. Na década de 1960, por exemplo, Adorno repensa as relações entre rádio e música, levando em consideração a então recente música eletroacústica [elektronische Musik] – principalmente no ensaio Über das musikalische Verwendung des Radios (1963) –, além de também investigar o potencial dos novos movimentos no cinema, aproximando-se às experiências do cinema autoral alemão no texto Filmtransparente (1966). A pluralidade de discussões com que Adorno se envolveu não só demonstra diferentes diagnósticos de tempo quanto à situação da arte e dos media, como também indica uma abertura aos potenciais de resistência presentes nesses últimos. O objetivo da comunicação é, então, explorar os textos menos conhecidos de Adorno, discutindo como se alteraram e se complexificaram, ao longo de sua obra, as relações entre arte e meios de comunicação de massa. 


 

PEREIRA, Cristiano Costa (SEDUC - MT/ UFG)/ CHAVES, Juliana de Castro (UFG)

A RACIONALIDADE DO DESENHO ANIMADO MAIS ASSISTIDO NO CINEMA BRASILEIRO: PARA ONDE VÃO OS PROCESSOS EDUCACIONAIS DA SENSIBILIDADE

 

Palavras-chave: cinema; educação; formação; pseudoformação.

 

Resumo: A presente comunicação aborda a relação entre cinema e educação da sensibilidade, entendendo o cinema em suas contradições como produção cultural capaz de promover a formação ou a pseudoformação dos indivíduos. Analisamos a racionalidade do desenho animado mais assistido no Brasil ente 2009 e 2015. A base teórica de análise é a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, principalmente Adorno e Horkheimer. A pesquisa revelou que o filme mais assistido foi a Era do Gelo 3 que expõe a lógica de produção estadunidense, permeado pela ênfase no detalhe, identidade entre todo e parte, propagação de estereótipos, clichês, heroificação do herói mediano, expropriação do esquematismo kantiano, repetição de formas que deram certo que envolve aventura, pitadas de humor e romance e do formato de série. Saídas sobrenaturais, unidade entre palavra, imagem e música, cortes abruptos e velocidade na sucessão de cenas que não contribui para a experiência, estímulo ao círculo de necessidades retroativas e uma lógica de excitação corporal e não de erotismo e uma realidade organizada de forma binária, são alguns dos elementos mediadores que favorecem a pseudoformação. Estudos de Adorno apontam a necessidade de se deter maior cuidado na formação da pessoa na infância, especialmente na primeira infância, para que se evite recriar horrores tais como ocorridos em Auschwitz. Walter Benjamin ao falar da infância salienta que não se refere a um período de inocência, nem a uma mera fase antes do adulto, mas que este é um tempo fundamental para se constituir experiências significantes. Percebemos então que os elementos encontrados dificultam a verdadeira experiência em que o sujeito se confronta com um objeto e em relação dialética, estranha, se pergunta, tenta entender, fazer apreensões e imaginar em um processo mútuo de entendimento e sensibilidade. Os impactos causados já preparam que tipo de sensibilidade o público deve seguir, o que empobrece a experiência.




 

PINTO, Rômulo Fabriciano Gonzaga (UFG)

REFLEXÕES ACERCA DA SEMIFORMAÇÃO HUMANA SOB O PRISMA ADORNIANO

 

Palavras-chave: semiformação, fetichismo, narcisismo, dominação, indústria cultural. 

 

Resumo: O presente artigo busca refletir, à luz da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, com base em Theodor W. Adorno (2005) e Max Horkheimer (2002), acerca do processo de semiformação humana. Considerar-se-á o percurso oriundo da compreensão marxiana do fetichismo da mercadoria e as reflexões que Adorno e Horkheimer desenvolveram acerca da indústria cultural. Evidentemente, não se trata de uma imersão profunda nas duas categorias (fetichismo da mercadoria e indústria cultural), pois o foco do presente estudo é o surgimento e desenvolvimento da semiformação como categoria lógica e histórica. De acordo com Adorno (2005) o fenômeno da semiformação não se trata de meros indicadores de decomposição dos processos de formação cultural, os quais podem ser vistos sob diversos prismas em diferentes classes sociais – independentemente de seu acesso a bens culturais –, visto que o molde do procedimento de razão da sociedade administrada dá o tom do fracasso, limitando o agir crítico e emancipado dos seres humanos em sua totalidade. Como a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt opera sob o princípio da primazia do objeto sobre o sujeito, embora a tensão entre sujeito e objeto permaneça como própria da dialética, pode-se depreender que é do universo objetivo que se entranham, no sujeito, os caracteres materiais e imateriais da semiformação. Não se trata, evidentemente, de um processo mecânico, mas oriundo de um esquematismo da dominação que se impõe de tal maneira que os indivíduos a ele submetidos têm poucas possibilidades de resistir. A semiformação é, assim, o modelo central de subjetivação e de deformação do humano. Diante disso, a ideia de cultura não pode ser sacralizada, como muitos desejam, pois tal processo potencializaria a apropriação subjetiva da própria cultura. Mesmo porque, esta não pode ser reduzida ao lugar comum unidimensional da mera socialização humana, posto que é ambivalente, como se pode compreender a partir do processo histórico. As (im)possibilidades da construção de autonomia e emancipação relacionadas à semiformação apresentam-se como próprias do mal-estar na civilização característico da sociedade vigente. Os caminhos para sua superação remetem a considerar a tensão entre particular e universal para, como possibilidade histórica, mobilizar a resistência na direção da superação da semiformação que, nada mais é, que a forma presente de dominação na atual sociedade.



 

REZENDE, Flavia Amaral (UNIFAAT)

DA ESTÉTICA A UMA CERTA ESTETIZAÇÃO DO MUNDO: A ESTÉTICA COMO FERRAMENTA DE CONTROLE DO SER

 

Palavras-chave: experiencia estética, esperiência transestética, estética capitalista, processo de hominização

 

Resumo: A presente Comunicação discute a relação da estética com a ontologia do ser tendo em vista o processo de hominização segundo Lukács. Busca o contraste de uma certa estética capitalista, relatada por Lipovetsky e Serroy, que, ao que tudo indica, retira da experiência estética a possibilidade ontológica. Tal afirmação tem como premissa de observação e problematização a teoria da formatividade de Payreson, na perspectiva analítica de Lukács em Estética e na Ontologia do Ser Social.

 

Se no passado – e hoje em algumas ocasiões envoltas numa certa ambiência – os sujeitos a partir da experiência estética podiam transformar sua consciência de Si e para Nós por meio da experiência estética como colocado por Payreson (2002), Lukács (1961) e Rezende (2011), com a estética capitalista isso não mais acontece ou dificilmente acontece. O espaço do fazer foi diminuído pelo comprar pronto, ou seja pelo consumo analógico e/ou digital. A fruição é apenas um instante perdido na narrativa de muitos instantes caleidoscópicos. O que corrobora para que a estética capitalista e a experiência transestética não funcione como “alavanca” do Ser integral? Por que acontece hoje do sujeito não-Ser? Quais as condições da experiência estética e da experiência transestética que impedem a tomada de consciência do Ser para Si e do ser Para Nós? Há algo a ser feito sobretudo no campo da Educação? Este artigo irá analisar a experiência transestética, sugerida por Lipovetsky e Serroy,  para enxergar se o processo ontológico se realiza no interior do capitalismo artista.

 

 Esta Comunicação busca demonstrar que a experiência transestética resultante da estética capitalista “esvazia” o ser na medida em que não propicia condições para a tomada de consciência de Si e do Nós. A estética capitalista portanto pode ser vista como uma ferramenta de controle sutil do [não]desenvolvimento do Ser humano, afetando o que temos de mais belo: a nossa capacidade teleológica e criativa. A nossa capacidade de sermos artistas.



 

RIBEIRO, Daniel Melo (UFMG)

O OLHAR ESTÉTICO DO FLÂNEUR: DAS DEAMBULAÇÕES SURREALISTAS À ARTE RADICANTE

 

Palavras-chave: caminhada, flâneur, vanguardas artísticas, mídias locativas

 

Este estudo se concentra no argumento da caminhada como prática estética. Trata-se de uma

técnica que foi intensamente explorada por diferentes vanguardas artísticas ao longo do século

XX. Destacamos, por exemplo, as excursões promovidas pelo Dadaísmo e pelo Surrealismo nos anos 1910 e 1920; a deriva situacionista nas décadas de 1950 e 1960; as peregrinações da land art dos anos 1960 e 1970; e o nomadismo dos artistas radicantes dos anos 1990 e 2000. Em comum, esses movimentos compartilham o desejo de se “produzir a vida cotidiana

enquanto obra de arte” (FABBRINI, 2015, p. 1-2). 

 

Na raiz dessas práticas, encontra-se a figura do flâneur, personagem analisado por Walter Benjamin. O flâneur é o caminhante solitário que se perde no labirinto da cidade em busca de fragmentos e resquícios que se encontram nos elementos banais das ruas, avenidas e galerias. Neste estudo, a figura do flâneur será tratada como um “instrumento de percepção e mapeamento da paisagem social” (BOLLE, 2000, p. 21). Benjamin sugere que a ação do flâneur não se resume a um mero vagar despretensioso: trata-se de uma forma de percepção da cidade, sensibilizando seus sentidos para gerar uma experiência estética sobre o espaço percorrido. O olhar desenvolvido pelo flâneur procura superar a mera constatação visual dos estímulos da cidade para dotá-lo de uma dimensão fenomenológica que está receptiva à surpresa e à curiosidade.

 

Ao explorar as experiências sensórias da cidade e sobrepor espaços para alcançar novos sentidos interpretativos, Benjamin aproxima o gesto do flâneur aos interesses dos dadaístas e surrealistas. As visitas dadaístas e as deambulações surrealistas foram ferramentas inspiradoras para movimentos de vanguarda nos anos seguintes, questionando o lugar tradicional da arte como representação. Recuperamos, por exemplo, o trabalho dos situacionistas: um movimento liderado por Guy Debord na década de 1960, que, dentre outros aspectos, desenvolveu a metodologia da deriva como um tipo de cartografia do ambiente urbano. Em oposição à tendência de geometrização e racionalização do território, os situacionistas se voltaram para as experiências efêmeras de apreensão do espaço (JACQUES,

2003).

 

Reivindicando a experiência do espaço vivido e a larga escala da paisagem, a chamada land art, por sua vez, promoveu uma série de caminhadas em regiões inóspitas e nas periferias urbanas. A land art incorporou procedimentos e técnicas da arquitetura e da escultura para a transformação do território, interferindo na natureza e construindo paisagens artificiais. Por fim, destacamos a chamada arte radicante, cuja marca é a discussão sobre a mobilidade, o nomadismo e as fronteiras de um mundo contemporâneo atravessado por fluxos. Os artistas radicantes são aqueles que inventam percursos para constituir novas paisagens culturais. (FABBRINI, 2015).

 

Contudo, todas essas manifestações artísticas nos levam a questionar qual seria o papel estético da flânerie no atual contexto das grandes metrópoles. Em que medida o olhar fenomenológico do flâneur daria conta da enorme complexidade das cidades contemporâneas? Defendemos que uma das alternativas passa pelo debate sobre as chamadas mídias locativas (RIBEIRO, 2019). A popularização dos dispositivos móveis digitais dotados de recursos de geolocalização e a consequente emergência dos territórios informacionais sugerem novas maneiras de se perceber o espaço contemporâneo das grandes cidades, com impactos significativos em nossa percepção estética.


 

ROSA, Cleudes Maria Tavares (PUC-Goiás/ UFG) / TERRA, Welma Alegna (UFG)

CRISE DA FORMAÇÃO CULTURAL NA ERA DIGITAL À LUZ DA TEORIA CRÍTICA DA ESCOLA DE FRANKFURT

Palavras-chave: Educação; formação cultural; tecnologia.

 

Resumo: Pensar a formação cultural na contemporaneidade, seus embates políticos, éticos e educacionais, torna-se um desafio que requer resistência e coragem ao enfrentamento da conjuntura atual. Na busca do sentido do conceito de formação como Bildung, em uma perspectiva de integralidade educativa, que requer a consciência da ideologia dominante na sociedade e seu poder de alienação, deve-se retomar ao estudo clássico de formação. Nesse contexto, o termo Halbbildung precisa ser compreendido em seu sentido dialético de negatividade buscando a desmistificação dessa realidade idealizada. Adorno denunciara a crise da formação, mostrando que esta não se restringia aos métodos pedagógicos e reformas de ensino nem aos conhecimentos especificamente sociológicos. Esta crise na formação se manifesta em sucessivas gerações, revestida pela ideologia do sistema vigente e configurando-se assim, em um problema sistêmico na educação. Desse modo, a concepção da cultura e da ética, torna-se distorcida de seu sentido como trabalho formativo, devido à persistente racionalidade de domínio que se intensifica no sistema capitalista. Assim, cabe pensar algumas questões referentes à educação e suas contradições que podem levar à emancipação ou à pseudoformação. Compreender a educação emancipatória é desafiante, em um período que demonstra cada vez mais o processo de instrumentalização da cultura, da arte e dos meios de comunicação que poderiam viabilizar um caminho para a autonomia dos sujeitos no sentido da educação formativa, mas, dadas as trajetórias das condições objetivas e técnicas do poder: econômico e político, não propiciam tal intento. Enfim, a desmistificação da práxis educativa e a autorreflexão possibilitam o constante pensamento sobre a formação humana, bem como, as experiências intelectuais construídas ao longo do processo civilizatório, nessa sociedade digital com a intensificação da tecnologia. Com o esvaziamento da razão no sentido clássico, devido à racionalidade técnica de predomínio na sociedade, há um retrocesso da consciência e do entendimento, levando à pseudoformação, processo de regressão cultural incentivado pela produção ideológica da indústria cultural em sua racionalidade instrumental subserviente ao capital, e seus aparatos tecnológicos. Quanto ao caráter (de)formativo, cabe refletir sobre a formação e a educação na perspectiva adorniana que requer uma consciência verdadeira, lembrando que a pseudoformação simboliza a consciência que renunciou a autonomia, a pensar o próprio pensamento, a autodeterminação. A pseudoformação advinda de uma administração do pensamento falseado pelo caráter ideológico do fetiche dos produtos da indústria cultural destitui o sentido da formação cultural em um movimento de decadência do humano. Isso acontece não somente na educação formal, escolarizada, mas em todas as instâncias culturais que mediam a (de)formação dos indivíduos, com o aprisionamento de seu corpo e limitando seu pensamento ao pragmatismo, em uma negação da dimensão estética e formativa.


 

SILVA, Fábio César da (UEMG)

A ARTE AUTÊNTICA COMO REFRAÇÃO DA SOCIEDADE FETICHIZADA

Palavras-chave: Arte autêntica; sociedade fetichizada; Teoria Crítica; T. W. Adorno.

 

Resumo: Nesta comunicação, apresentaremos a ideia do filósofo T. W. Adorno (1903-1969) de que a arte autêntica serve como refração da sociedade fetichizada. Na obra Dialética do Esclarecimento (1947) de Adorno e Horkheimer, a ideia principal é de que haveria uma confluência entre o Mito e o Esclarecimento em suas constituições originais. O Mito já seria um tipo de Esclarecimento pelo fato de ser uma tentativa de dominação do homem sobre a natureza e o Esclarecimento, por sua vez, seria um tipo de evolução do mesmo princípio de dominação. Essa ideia está fundamentada no domínio da natureza de Ludwig Klages e no desencantamento do mundo de Max Weber. O domínio da natureza seria uma condição inevitável do processo civilizatório que reporta a uma etapa da vida humana na qual o homem e a natureza seriam indistintos. Com o advento do pensamento, o homem separou-se da natureza de tal modo que ocorreu uma cisão entre sua natureza interna e a natureza externa, estabelecendo-se uma outra etapa da vida humana. Com isso, a primeira etapa torna-se o momento excelso de felicidade humana com grande capacidade de atração em que o homem vivia em puras pulsões selvagens em harmonia e indiferenciação com a natureza. Inevitavelmente, ocorreu uma renúncia da felicidade pela própria manifestação do pensamento, que necessitaria de uma individuação, de um Eu coerente e constante para se manter. Consequentemente, essa renúncia obrigou o homem a um esforço tremendo de enfraquecimento tanto da natureza interna, reduzindo a satisfação de seus desejos imediatos, como da externa, desencantando-a pelo fato de ela lembrar tanto um estado primevo de felicidade como um medo de abandono daquela primeira etapa. O advento do pensamento seria o processo de uma identificação, de individuação do Eu, com a renúncia hedonista que visa a dominar a natureza. Ademais, o desencantamento do mundo seria o efeito da renúncia do homem ao hedonismo de sua natureza interna originária, advinda de uma felicidade rompida quando ele era indiferenciado da natureza, projetado na natureza externa. O processo do Esclarecimento seria também um processo de fetichização de uma condição de fato de irracionalidade humana, de estado de barbárie de um mundo administrado, cuja característica social se estabelece pela não reconciliação da ciência, da moral e da arte com a natureza desde a origem do pensamento. Contra isso, Adorno propôs a ideia de um dever ser pela não-identidade, pela reconciliação do homem com a natureza por meio de obras de Artes exemplares caracterizadas no belo natural em si. Enfim, Adorno formula uma ideia hedonista da vida humana reconciliada, na qual existiria a possibilidade de reconciliação entre o homem e a natureza, tanto interna quanto externa, bem como entre o homem e a sociedade por meio de um tipo de razão que pautasse pela felicidade humana. A esperança de que isso ocorra seria vislumbrada pelo fato de existir em certas obras de Arte autêntica uma efetiva reconciliação, servindo como cifras a serem seguidas, como se fossem uma utopia concreta consagrada pela união harmoniosa entre mímÄ“sis e racionalidade. 



 

SILVA, Fernanda Ortins (UFG)

INDÚSTRIA CULTURAL E MÚSICA: O RAP NAS REDES SOCIAIS E A REGRESSÃO DA AUDIÇÃO NA PERSPECTIVA DA TEORIA CRÍTICA DE FRANKFURT

 

Palavras-chave: Indústria Cultural; Rap; Regressão da audição; Teoria Crítica

 

Resumo: Esta proposta tem como objetivo refletir sobre a indústria cultural e a música nas redes sociais, especificamente o rap, e a regressão da audição na perspectiva da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt. Adorno & Horkheimer (1985) discutiram com afinco a lógica industrial, a produção racionalizada do ponto de vista tecnológica, a reprodução mecânica e a distribuição dos produtos culturais a fim de compreender o consumo das massas. Parte-se do pressuposto que, enquanto massa dessa sociedade administrada, perde-se a capacidade de ouvir e avaliar os produtos culturais distribuídos nas redes sociais. Para Adorno e Horkheimer (1985) os mecanismos da indústria cultural se apropriam das produções artísticas, facilmente absorvidas pelo mercado, neutralizando a capacidade crítica dos espectadores, que consomem sem esforço o produto proposto, voltado, muitas vezes, para o entretenimento e não para a crítica social. A arte como mercadoria, necessita ser consumida e atender ao mercado em oposição ao conhecimento. O rap, é uma expressão artístico-cultural que nasceu dos guetos negros urbanos, como manifestação cultural, de denúncia das mazelas sociais, da injustiça e das contradições da sociedade capitalista e administrada (Dayrell, 2001). Entretanto, parece não ser mais um produto exclusivo dos guetos, mas sim um produto que foi apropriado pela Indústria Cultural, de modo a atender uma nova racionalidade, padronizado e fetichizado. Questiona-se se o rap continua um estilo musical de resistência, capaz de desvelar as injustiças sociais com o foco na emancipação do sujeito ou se, atualmente, legitima uma maneira de ser e estar presente no mundo, tão vinculado à violência, à barbárie, ao poderio, à criminalidade e aos diversos estereótipos e estigmas historicamente construídos sobre a pobreza e a periferia. A Indústria Cultural como portadora dos interesses dos grandes monopólios, a fim de ganhar o mercado, emprega mecanismos capazes de não apenas adaptar os seus produtos ao consumo das massas, como também determinar o seu consumo. Um dos mecanismos que Adorno (1983) discute, no tocante à música, é o fetichismo musical, em que predomina os estrelatos totalitários, das vozes de cantores e dos instrumentos musicais, que se tornam bens sagrados de valor igual a uma marca de fabricação nacional, mesmo sem a exigência de virtuosismos técnicos e diante de modernas técnicas de fabricação. O autor pontua que a regressão da audição opera no pólo oposto ao fetichismo na música. O que se ouve são músicas padronizadas e a racionalidade técnica é utilizada para justificar a produção em série para a satisfação de necessidades iguais, confirmando, entretanto, a racionalidade da própria dominação. Na Indústria Cultural, os consumidores se adaptam aos produtos oferecidos de maneira heteronômica, dependente e incapaz de julgar e decidir conscientemente. Há que se pensar os produtos culturais de maneira autônoma e emancipada, analisando qualquer expressão artística em suas contradições de maneira crítica.


 

SOUZA, James Jesuíno de (IFPA/ UFAM)

ESTÉTICA CINEMATOGRÁFICA EM DELEUZE

 

Palavras-chave: Imagem-tempos, Imagem movimento, Logopatia cinematográfica.

 

Resumo: O pretenso trabalho se estabelece como uma proposta o recurso estético do cinema para o Ensino de Filosofia no ensino médio a partir do filósofo Gilles Deleuze. Nesse sentido trata-se de fazer uma abordagem a partir de duas problemáticas: uma geral (abordada na parte teórico-crítica) e outra na parte específica denominada aqui de parte prático-propositiva é: a problemática de ordem geral sendo a Filosofia uma atividade teórica e racional, é possível no Ensino Médio fazer a experiência filosófica estética por meio do cinema? Então, como orientar os alunos do ensino médio para que possam assistir, compreender e interpretar filosoficamente filmes, ou extrair conceitos logopáticos? A hipótese é: o cinema como recurso estético pedagógico é capaz de suscitar o pensar filosófico. Nos objetivos se buscará trabalhar os aspectos: do experienciar a linguagem cinematográfica; averiguar a linguagem filosófica, (especificamente algumas categorias como IMAGEM-TEMPO, IMAGEM-MOVIMENTO), plano da imanência, Devir, VER e PERCEBER, e logopatia, conceitos estes advindos da filosofia de Deleuze. Pretende-se ainda, identificar a partir das imagens cinematográficas como estas suscitam verdades que podem ser interpretadas e reinterpretadas. Disto isto, o primeiro ponto que se faz necessário nessa abordagem se estabelece acerca da relação entre o cinema e a filosofia e vice-versa.  Desse modo, cabe perguntar, que relação há entre filosofia e cinema, e cinema e filosofia? Quais usos teriam a filosofia para o cinema, e que usos teria o cinema para a filosofia? Por assim dizer se tratássemos estética como formas de VER, com diferentes olhares, o cinema não é simplesmente isso os modos de VER, é mais do que isso é a possibilidade de pensarmos o nosso estar no mundo, a nossa existência, o nosso vínculo com o mundo. É perceber a partir das imagens possibilidades que nos faz refletir sobre variados temas desde a teoria do conhecimento até a ética, visto que o cinema é um modo de existência. Pois em certa medida o VER, e o perceber implicam o modo de existência, então novamente dentro do simples, só quero VER. E mesmo dentro de uma definição simples mundos inteiros, mundos perceptivos, mundos afetivos e mundos ativos eles estão embutidos, e muito mais do que supõe o nosso senso comum, está num campo também ideal, de criação, de recriação de imagem e de imaginação.

 

No entanto, explorar o cinema a partir da filosofia, e a história da filosofia a partir do cinema, por trás das cenas, traz à tona todas essas problemáticas já elucidadas que parecem ser em si filosóficas. Então a partir de Deleuze o cinema parece ganhar uma nova roupagem porque na imagem-movimento, na imagem tempo, pelos perceptos e pelos afectos, somos levados à filosofar, já que ser afetado pelo percepto é um ato de VER. Entendamos aqui, que o ato de VER não se limita apenas às projeções que nossas retinas possam captar, mas também outros órgãos dos sentidos nos fazem VER, essa ressalva cabe porque aqueles que são deficientes visuais possuem a capacidade de VER que não se limita simplesmente ao uso do globo ocular.

 

 




 

TERRA, Welma Alegna (UFG)

EDUCAÇÃO ESTÉTICA E FORMAÇÃO DA SENSIBILIDADE EM THEODOR ADORNO E FRIEDRICH SCHILLER NO CONTEXTO DA RACIONALIDADE INSTRUMENTAL

 

Palavras-chave: Educação estética; racionalidade instrumental; formação.

 

Resumo: Este texto apresenta a concepção de educação estética com base nas obras de Theodor W. Adorno (1903-1969) e Friedrich Schiller (1759-1805), no contexto da racionalidade instrumental e sua relação com os processos de educação e formação na sociedade capitalista contemporânea, buscando compreender as possibilidades educacionais na esfera da cultura e das artes. Ao estudar experiência estética deve-se refletir sobre a consciência das percepções culturais e sociais na formação ética e da sensibilidade do sujeito, considerando a contradição existente na relação entre universal e particular, objetividade e subjetividade e sujeito e objeto para que a formação não seja idealizada e destituída de sua práxis transformadora, mas se realize em um contexto de fundamentações teóricas com rigor de pensamento, experiência e ação efetiva e resistente. A educação estética como um canal de desmistificação de suas próprias contradições, ao assumir a sua voz ativa de denúncia, torna-se então, um convite de resistência ao racionalismo instrumentalizador da sociedade contemporânea. Essa resistência, que advém da educação estética, requer o trabalho de esclarecimento contra as formas de expropriação dos direitos e desumanização dos indivíduos pelo pensamento unilateral, além de em contraposição possibilitar meios de emancipação pela experiência formativa da sensibilidade. A experiência estética torna-se uma categoria privilegiada na teoria crítica, por constituir em algo fundamental para se pensar a emancipação do indivíduo e sua formação sob princípios humanistas, porém deve-se compreender a lógica da racionalidade instrumental que, permeada pela ideologia, insiste em invadir e controlar o espaço artístico e criativo da estética. O sistema capitalista para manter seus aparatos de domínio, age de modo a distorcer os princípios da formação estética, conforme seus próprios interesses. Diante dessa situação percebe-se que a estética, assim como a práxis e o trabalho, são elementos constitutivos de contradição que precisam ser compreendidos. Desse modo, é premente a autorreflexão sobre a possibilidade de emancipação humana advinda da educação, em especial da educação estética, no combate aos processos alienantes do sistema capitalista que mediante a indústria cultural atua no controle do modo de ser e agir dos indivíduos. A indústria cultural, ao invadir o campo estético, ocupa-se de uma reprodutibilidade técnica e imitativa do original, como se fosse algo novo, mas hipostasiado por uma ideologia que convence o indivíduo a adquirir objetos de modo alienado. Apesar da racionalidade de domínio do sistema capitalista vigente, a essência do homem é estética, tendo o vínculo da sensibilidade com a razão, e nessa lógica, caso se desprenda da padronização e realize uma autocrítica, o homem perceberá que não necessita somente de objetos materiais para a sua existência, mas também de elementos imateriais e de criação do belo, que se encontram nas obras de cultura.




 

VEDANA, Simone T. (UCS)

A POÉTICA NAS TECNOLOGIAS DIGITAIS

 

Palavras-chave: arte; imitações; finalidade.

 

Resumo: Aristóteles, o filosofo grego que viveu no século IV a. C, estudou as questões da alma, das paixões, dos desejos, da razão e do comportamento. Esse pensador escreveu sobre as manifestações artísticas em sua obra denominada Poética. Aristóteles encontrou argumentos que explicam porque é da natureza humana produzir arte e o que elas motivam, representam e causam ao artista, aos que a contemplam e a cultura de cada época. A partir dos argumentos aristotélicos a respeito das artes podemos compreender a função e a verdade que ela transmite em suas variações pela qual está sujeita a cada época e cultura. A epopeia, a tragédia, a poesia, a música instrumental, o drama, a tragédia são formas de imitações diversificando quanto aos meios, objetos e modos. As artes, para o pensador grego, imitam isoladamente ou em conjunto através do ritmo, da linguagem e da harmonia a realidade das ações. A origem dessa arte representativa é explicada por duas causas naturais: o imitar, que é congênito no homem e no prazer no que é imitado. A imitação e a experiência fazem parte do processo de aprendizagem. As primeiras aprendizagens ocorrem pela função nata da imitação. A experiência vivida ao que imita e ao que contempla permite reviver a realidade e formar novos julgamentos antes não percebidos pela ausência da experiência. Para ator e para o espectador, a vivência imitada transformar situações que causam horror e repugnância em prazer. A imitação dos defeitos humanos permite transformar o ridículo, e a dor ocasionada por ele em uma máscara cômica chamada comédia. O terror e a piedade, produzidas pela tragédia, têm por efeito a purificação dessas emoções. Aristóteles diz que a imitação relaciona- se às ações humanas e suas finalidades que em situações impensáveis estimulam o pensamento e sua elocução. Fazem parte do mito é a peripécia, o reconhecimento e a catástrofe, e deve ter verossimilhança com o caráter do personagem com o da natureza humana apresentando caracteres de bondade, conveniência semelhança e coerência. Para o autor o absurdo deve ser considerado na poesia pela opinião comum e as expressões contraditórias devem ser examinadas como nas refutações dialéticas. As expressões artísticas do sec. XXI encontram novas formas de representações pelos mecanismos surgidos pela realidade digital, mas as verdades que elas apresentam não diferem das descritas por Aristóteles, algumas novas realidades artísticas talvez tenham os mesmos fins que as artes citadas pelo autor como a ficção científica em relação à tragédia. Com a evolução tecnológica a arte adquiriu possibilidades, formas e meios para representar sua essência e suas verdades, mas talvez, os motivos que dão origem às artes e os fins a que elas se destinam permanecem os mesmos desde a poética aristotélica até a era digital, virtual e de inteligência artificial.

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